Parte 5 – Como a obra Beatrice Letters comprova que Beatrice, a mãe dos irmãos Baudelaire, está viva assumindo a identidade de outra pessoa e que provavelmente abandonou de propósito seus filhos durante o incêndio e que descobrir isso fez os sentimentos românticos de Lemony serem superados por uma decepção grotesca?

A obra Beatrice Letters contém cartas provenientes de Beatrice Baudelaire (mãe dos irmãos Baudelaire) e da filha de Kit Snicket também chamada Beatrice Baudelaire. É possível identificar qual das Beatrices é autora das cartas por meio de um sistema utilizando anagramas, iniciado por Lemony Sniket enquanto ele ainda estava estudando em CSC juntamente com ela. Lemony e Beatrice incerem anagramas de seus nomes nas cartas provenientes deles, para garantir que são eles mesmo que estão escrevendo suas cartas, devido a possibilidade real de outras pessoas fingirem ser quem não são ao escreverem cartas para outros. Analisando-se as cartas, percebemos que Beatrice escondeu uma mensagem secreta em um poema. Nesse poema, ela indicou que iria fingir sua morte. E foi o que ela realmente fez. Anos depois ela tentou entrar em contato com Lemony, relembrando ele desse poema, mas ele não o tinha mais, nem se lembrava do conteúdo do poema. Anos depois, quando Beatrice tentou contatá-lo novamente, Lemony finalmente encontrou o poema e entendeu que Beatrice planejou a própria morte com anos de antecedência, e executou o plano. Perceber que a execução desse plano significava que Beatrice foi egoísta o bastante para abandonar de propósito seus filhos o levou a se decepcionar muito com ela. Por causa disso, ele decidiu publicar o livro Beatrice Letters, (na verdade deixou que seu editor decidisse se iria publicar ou não) e revelou no livro o Fim que Kit na verdade estava morta, e praticamente revelou que Beatrice não estava morta em sua dedicatória no livro 13.

Agora vamos provar tudo isso…

Uma voluntária, em um excelente trabalho universitário, fez uma tradução comentada de Beatrice Letters do inglês para o português. Esse trabalho pode ser baixado aqui.

No Livro 13 verdades chocantes sobre Lemony Snicket que voce nunca deveria saber, lançado on-line no site de Lemony antes de lancar Beatrice letters, ha uma explicação inglês do que viria a ser Beatrice Letters: segue abaixo:

“On the subject of THE BEATRICE LETTERSCOMING SEPTEMBER 2006 This correspondence between Lemony Snicket and Beatrice may be the final key to truth in The End!

Collected by Mr. Snicket himself and delivered to HarperCollins under cover of night, this collection of intriguing correspondence sheds light on many of the mysteries surrounding Lemony Snicket and A Series of Unfortunate Events.”

Assim, foi mostrado que haveria em Beatrice Letters um meio de entender bastante sobre alguns mistérios da saga.

 

Como você com certeza sabe, a filha de Kit Snicket foi chamada por Klaus, Sunny e Violet pelo mesmo nome da mãe deles.

Pensando nisso, note o que Lemony diz na carta ao editor, (Carta 13 de Beatrice Letters):

Por exemplo, porque eu a amei tanto, nunca me ocorreu que poderia haver mais de uma Beatrice Baudelaire. Foi um bom tempo antes eu receber a primeira carta de Beatrice Baudelaire que eu percebi que todas as cartas de Beatrice Baudelaire poderiam ser encontradas não só na primeira Beatrice Baudelaire mas também na segunda Beatrice Baudelaire e que talvez se eu reunisse as cartas da primeira Beatrice Baudelaire que restam com as primeiras cartas da Beatrice Baudelaire que resta, então as cartas de Beatrice poderiam explicar as cartas de Beatrice e até mesmo as letras (ou cartas) de Beatrice, não importa que letras (ou cartas) sejam essas, e não importa em que ordem elas estejam. Eu imediata mente comecei a trabalhar no arquivo.

Tais palavras são uma afirmação de Lemony que no arquivo, (que veio a se tornar o livro Beatrice Letters) contém cartas de ambas Beatrices. Atente que a palavra Letters em inglês é a mesma tanto para “letras” como para “cartas”. As cartas no arquivo estão misturadas e não necessariamente na ordem em que foram escritas. É um jogo similar a um anagrama, onde se mistura letras e no caso se misturam cartas. Como você vai perceber, existe um método, usando anagramas, que foi usado por Lemony quando ele estava em uma aula de códigos secretos. Esse método usa os anagramas de Lemony Snicket e/ou de Beatrice para identificar que estes são os remetentes e/ou destinatários das cartas. (Isso ajuda muito quando existe a desconfiança que seus inimigos estão tentando lhe enganar fingindo ser outra pessoa). Os anagramas usados são “My Silence Knot (traduzido para português como o nó do meu silêncio) e Baticeer (que é algo como “Morcegueira, alguém que treina morcegos”). Vamos começar a ver a carta em questão,

“Carta 3 ou “De LS para BB Nº 2” –

Cara Beatrice,

Como sempre, estou escrevendo essa carta sem nenhum motivo em particular, e vou tentar fazer com que R lhe entregue ela para que você a possa ler antes de nos encontrarmos para o nosso treino de esgrima. É fácil escrever cartas durante o Curso de Código, uma vez que nosso instrutor despreparado e tedioso fica simplesmente resmungando as mesmas lições sobre escrever cartas de negócios. Ele provavelmente vai ficar falando por vários e vários anos. Enquanto isso, pessoas sortudas, como você, estão tendo aula de teatro. Eu posso ouvir você correndo e fazendo o chão de madeira ranger sobre a minha cabeça.

Você e R. provavelmente estão aprendendo a transmitir mensagens codificadas em diálogo melodramático enquanto eu escrevo isto. O único outro aluno dessa turma que eu conheço é O., o qual só me incomoda. Enquanto eu estou escrevendo, ele está enchendo o seu caderno de anagramas de palavras obscenas. Estou tentado a dizer para ele que a expressão “verruga prevetina” não quer dizer nada, mas depois daquele incidente com o vidro de tinta e a vaca preta, eu acho que é melhor ficar dentro do “Nó do Meu Silêncio” (My Silence Knot) quando aquele imbecil levanta aquela cabeça feia de uma sobrancelha só.

Eu estou bem animado com a nossa excursão. Eu sei que a R. é a sua dupla na escalada, mas estou torcendo para que você possa se juntar a mim por algumas horas para explorar umas cavernas. Minha irmã me disse que há morcegos naquelas cavernas, e eu adoraria passar um tempo com uma certa “morcegueira” (“baticeer”). Não importa onde a gente esteja – lá longe nas montanhas ou ali embaixo na lanchonete, nadando pelo oceano ou se escondendo dentro de um automóvel — eu gosto de estar junto com você, e sinto falta de você quando não estou. Estou com saudade.

Vejo você daqui a algumas horas,

Lemony Snicket”

 

Observe que Lemony cria oportunidade no texto para usar o anagrama de seu nome (My Silence Knot). Ele usa também o anagrama de Beatrice, Baticeer. Ele faz isso para confirmar que a carta é de sua autoria. Ele deve ter aprendido esse método na própria aula de código, e passado esta informação para Beatrice. Porque é importante saber disso? Por que Beatrice, a mãe de Violet, Klaus e Sunny, usa o mesmo método para se identificar. Já Beatrice, a filha de Kit, não usa esse método.
Observe, por exemplo, uma das cartas da filha de Kit, que não usa esse método:

Carta n°6 ou “De BB para LS Nº 3”

4 horas da tarde

Querido Sr,

Finalmente te encontrei – mas você não está aqui. Os pastores me contaram que um homem com as mesmas características que você (altura média, não careca, totalmente vestido e com as iniciais L.S.) morou nas montanhas por alguns meses como um “homem-brae’’, umas frase que aqui significa “um homem que mora nas montanhas”. Eles disseram que você raramente se aventurava a sair de uma pequena caverna – “como se estivesse esperando por alguém,” disse o mais velho dos pastores, enquanto tocava seu sino para chamar as ovelhas e me olhava muito cuidadosamente nos olhos. Eu troquei um anel que estava usando, gravado com a inicial de uma pessoa que eu acho que você conheceu, por uma visita à caverna. Não sei o que terei para negociar em troca de ter esta carta enviada.

Sua caverna é um lugar miseravelmente sem corrente de ar, infestada de morcegos e decorada com um papel de parede horroroso. Seja lá o que for que você tenha trazido aqui, levou consigo quando partiu – a única coisa que achei aqui foi esse pedaço de papel no qual estou escrevendo esta carta. No fim da folha há uma única letra, a qual me informaram ser sua caligrafia/letra – outra letra para a minha coleção, incluindo as letras das suas iniciais, as cartas que encontrei no seu escritório, e as cartas que te escrevo, sempre sem saber se você as recebe.

Esta tem sido uma longa e difícil jornada. Exceto pela baleia, tenho viajado sozinha e, agora, depois de seguir o caminho que você deixou para mim em seu escritório – se aquele for mesmo o seu escritório, e se você tiver deixado aquele caminho mesmo para mim, e se você for quem acho que é – tudo o que consegui ficar sabendo foi o que você disse quando deixou esta caverna numa Quarta-Feira à noite, assim que a estação da chuva de granizo começou.

Estou pronto para uma ‘root beer float” (ou “vaca preta”, em outra tradução), foi o que você disse, e eu estou também. Eu voltarei para a cidade, onde me disseram que fazem as melhores “root beer floats” numa certa loja, embora eu tenha esquecido o nome, a localização e a lista de preços da loja em questão. E é por isso que é tão importante pra mim que eu encontre minha família. Com o tempo, muitas memórias desaparecem. Violet amarrando seu cabelo em uma fita para mantê-lo longe dos olhos, Klaus lendo um livro através de seus óculos, Sunny aparecendo na rádio para discutir suas receitas – não quero que essas sejam minhas únicas lembranças das três pessoas mais importantes da minha vida. Por favor, senhor, contate-me a qualquer hora, dia ou noite, enquanto sigo meu caminho para onde, eu espero, o senhor está se deliciando com um refresco.

Beatrice Baudelaire.”

 

Note que nesta carta não há o uso de “My Silence Knot”, nem de “Baticeer”. Fica evidente também que esta não é a mãe de Klaus, Sunny ou Violet por ela não saber onde seria o lugar para tomar o “root beer float”, ou vaca preta. Como mostra a carta 1, Lemony e Beatrice mãe dos meninos, tiveram seu primeiro encontro num local específico em que podiam tomar uma vaca preta juntos. Então, esta que escreveu a carta Carta n°6 ou “De BB para LS Nº 3” com certeza é a filha de Kit. (Um detalhe interessante é que na versão impressa de Beatrice Letters, há um “K.” na página em que a filha de Kit escreve, com a caligrafia de Lemony. Como se Lemony estivesse escrevendo uma carta para “K.” mas acabou deixando para trás o papel onde iria iniciar a carta. Para você pensar: Por que Lemony escreveria para K, se Kit já estava morta há tanto tempo?)

 

A carta 1 ou De “LS para BB Nº 1” diz:

LEMONY SNICKET
ESTUDANTE DE RETÓRICA

Sinto muito se te envergonhei na frente de seus amigos. Eu só queria falar com você. Você sempre pareceu uma pessoa interessante, e eu gostei muito do seu desempenho oral naquela história do soneto. Se você quiser passar o intervalo da tarde comigo, encontre-me fora do Portão Leste, por perto há um bom Café que serve root beer floats (vaca preta). Serei o garoto de onze anos vestindo uma gravata verde e um broche de nossa organização.

 

De forma similar, a carta nº. 4 também chamada de de “BB para LS Nº2”, é proveniente da filha de Kit, e foi escrita antes da carta 6, que postei mais acima.

Note:

“28 de Fevereiro

Querido Senhor,

Estou escrevendo isso na máquina de escrever do seu pequeno e empoeirado escritório, no 13º andar de um dos nove edifícios mais sombrios da cidade. É uma sala monótona, mas tem uma vista interessante. Se eu me recostar nessa cadeira—sua cadeira, se eu não estiver enganada— consigo ver um lote vazio no qual algumas plantas exóticas brotaram. Levam anos para a terra se recuperar de um incêndio, mas mesmo nas cinzas mais escuras eventualmente alguma coisa pode crescer.

Você não está aqui, mas eu acho que sei onde estás graças a algumas pistas que descobri. Por exemplo, pregado na parede direita há um mapa enorme, com um caminho marcado com linha e alfinetes. Adicionalmente, há notas indicando hotéis, lugares escondidos, escritórios de lugares que alugam carros, sinagogas, bibliotecas públicas, bibliotecas particulares, restaurantes, cafés, buffets com tudo o que se pode comer e cinemas, cada lugar marcado com uma data e um horário. Ou sou uma detetive muito boa, ou você é péssimo em esconder coisas—ou, talvez, queira que eu vá onde você está.

A caixa de madeira na qual se lê “cartas” em cima da sua mesa está cheia de cartas. Mas todas elas estão misturadas, e não consigo determinar o que elas diriam se as colocasse na ordem apropriada. A única carta faltando é a que te mandei. Ou ela nunca chegou, ou você a levou junto com você.

Por favor, Sr., preciso falar contigo. Tenho ouvido rumores de sua perseguição e tenho dúzias de perguntas assim como uma ou duas críticas construtivas. Estou partindo dessa cidade, apenas algumas horas após tê-la visto pela primeira vez, para seguir seu caminho de linha e alfinetes. Estou indo na direção das montanhas, para que eu possa encontrar, depois de todos esses anos, os três irmãos que são a única família que eu tenho. Sem Violet, Klaus e Sunny, sou uma órfã — uma órfã que vai deixar essa carta aqui, no caso de nos desencontrarmos.

Beatrice Baudelaire.”

Sanguessuga do lago lacrimoso

PS. Este peso de papel é muito bonito, no entanto não posso dizer se representa uma cobra, um verme ou uma serpente elétrica.

 

Note que novamente nesta carta não pode ter vindo de Beatrice, a mãe dos meninos. Ela diz não conhece o peso de papel, que é uma sanguessuga do lago lacrimoso de acordo com o próprio Lemony na carta 5, ou “De LS para BB N.3”:

“não posso ajudar em nada além de compartilhar o obituário que estava me esperando em minha mesa hoje de manhã, embaixo do peso de papel do Lago Lacrimoso que I. me deu de presente de formatura.”

A mãe dos meninos, com certeza iria reconhecer essa sanguessuga, porque Lemony já tinha falado sobre ela numa carta anterior, e porque provavelmente Beatrice conhece as famosas sanguessugas do Lago Lacrimoso. Além disso, esta Beatrice diz que nunca esteve na cidade do escritório de Lemony, que a tudo indica é a cidade principal. Ela cita uma carta anterior que se perdeu, e deve ser verdade, pois não está entre o conjunto de cartas que Lemony colocou em Beatrice Letters. Esta frase serve também como um Red Herring para fazer o leitor acreditar que a primeira carta de Beatrice da obra Beatrice Letters (a carta n.2, ou “De BB para LS n.1”) é desta Beatrice, filha de Kit. Mas não é. Nesta carta n. 4 (ou de BB para LS Nº2) não encontramos nem o anagrama My Silence Knot nem Baticeer. Em muitas das cartas de Lemony para Beatrice  encontramos pelo menos um destes anagramas, ou ambos.

Vou citar aqui apenas as partes em que aparecem, e as cartas em que aparecem, vindas de Lemony para Beatrice:

Carta 3 (ou De LS para BB Nº 2) – (está transcrita acima)

Carta 7 – (ou De LS para BB N.4) – Repórteres estão vindo de toda parte de Tedia até Paltryville, pois as performances de “My Silence Knot” (o nó do meu silêncio) estão esplêndidas e sua performance como “Baticeer” foi a melhor do show, superando até a performance do homem-das-montanhas.

Carta 9 – (ou De LS para BB N.5) –  Recebi todas as 200 páginas do seu livro que explica porque você não pode se casar comigo, e dei tantas sementes quanto os pombos-correios puderam comer. E lavei suas penas com meu dedos trêmulos, e seus bicos com minhas lágrimas. Tive que ler o livro três vezes e meia antes de poder desatar “Meu Nó Silencioso” (My Silence Knot) e te escrever. […] Eu vou amar você mesmo que você abandone sua carreira de morcegueira (baticeer), e eu vou amar você mesmo que você se aposente do teatro…

 

Entendo-se isso, vamos para as cartas que definitivamente vieram da mãe de Klaus, Sunny e Violet:

Carta 2: (De BB para LS N.1)

“Quarta-Feira

Querido Senhor, (“Sir.” – este pronome originalmente em inglês não quer dizer que necessariamente é alguém mais novo falando com alguém mais velho, mas é uma forma educada a se referir a um homem de qualquer idade em uma carta.).

   Não tenho como saber se essa carta vai chegar a você, já que a distância entre nós é tão grande e tão dificultosa. Este pequeno pedaço de papel deve cruzar montanhas e cafeterias, em porta-malas de automóveis e em bolsos impermeáveis de nadadores de longa distância, dentro de envelopes e dobrado dentro de cisnes, a fim de tomar o caminho do seu pequeno e empoeirado escritório no décimo terceiro andar de um dos nove edifícios mais sombrios da cidade. Tudo o que eu posso fazer é esperar pelo melhor, mas esperar pelo melhor, assim como esperar que um morcego obedeça suas ordens, quase sempre leva ao desapontamento. E mesmo se essa carta chegar até você, não tenho certeza de que chegará à pessoa certa. Talvez você não seja quem eu penso que é-–existem muitas pessoas, afinal, com as mesmas inicias que alguém, assim como há provavelmente três ou, no mínimo, uma outra pessoa com as mesmas iniciais que eu.     Talvez você também pense que eu sou outra pessoa, e faça uma anotação suspeita na margem, me acusando de ser uma vilã ou coisa parecida.

Por anos e permaneci quieta, sentindo todas  minhas palavras se contorcendo e se emaranhando dentro de mim como uma linha, enquanto procurava desesperadamente por alguém que pudesse me auxiliar. Agora , devo desatar “Meu Nó Silencioso (My Silence Knot)” e escrever para um homem que nunca vi, mesmo que ele não seja o homem que procuro, e mesmo que eu esteja procurando pelo homem certo no lugar errado, ou pelo homem errado no lugar certo, ou ambos, ou nenhum, ou ambos ambos e nenhum.

Pelo que me falaram, você pode ser a única pessoa capaz de me ajudar. Me falaram que você é um tipo de detetive — ou, pelo menos, me disseram que a palavra “detetive” está pintada na porta do seu escritório. Me falaram que você guarda para tudo para si e raramente fala com alguém, e nas raras ocasiões em que se envolve numa conversa, você nunca discute seu passado, mas pode ser encontrado ocasionalmente em uma livraria, folheando do começo ao fim as seções de crítica teatral em jornais velhos. No entanto, espero que você discuta seu passado comigo. Espero que me conte uma história que começou há muitos anos atrás, no que me falaram ser uma espécie de sala de aula. Espero que você seja quem penso que é, e espero que você ainda esteja no seu escritório, e que essa carta chegue a você. Resumindo, espero pelo melhor.

Meu nome é Beatrice Baudelaire. Estou procurando pela minha família — mm Baudelaire, Klaus Baudelaire e Sunny Baudelaire. Por favor, me contate a qualquer hora, dia ou noite.

PS. Dia seria melhor, pois meu horário de dormir é cedo.”

 

Quais evidências existem que esta carta realmente é da mãe dos meninos?

1 – Lemony garante que algumas das cartas vem da mãe dos meninos, como já vimos.

2 – Diferentemente das cartas da filha de Kit, nesta carta há a presença do anagrama “My Silence Knot”. A inclusão desse anagrama é proveniente da aula de códigos de CSC, e foi marca recorrente nas cartas que Lemony havia enviado para Beatrice no passado.

3 – Beatrice tem certeza absoluta nesta carta que existe (não que existiu) alguém com as mesmas inicias que ela. No caso, a filha de Kit que se tambem se chama Beatrice Baudelaire. Essa Beatrice também está a procura de sua família no momento da escrita da carta.

Agora vejamos a carta 8 ou de (BB para LS n.4). Vamos ler essa carta comentando cada parte:

BEATRICE BAUDELAIRE

Véspera do Dia da Vitória

Caro Sr,

Escrevo para maiores informações sobre o problema que discutimos previamente este ano. Estou na minha Aula de Escrita de Cartas de Negócios, que é ensinada por um homem de pé chato tão triste e “sem-noção” que ele certamente me dará um A neste trabalho sem ler nada, a não ser a primeira frase de cada parágrafo. Eu poderia dizer qualquer coisa aqui. Por exemplo: “Baticeer” é uma pessoa que treina morcegos. Aprendi isso em um poema que vi você ler.

(Observe que Beatrice logo no primeiro parágrafo usa o anagrama Baticieer. E ela faz isso de modo pouco natural nesta carta. Aparentemente ela fez isso apenas para cumprir uma exigência de se identificar. Mas atente também que Beatrice diz que VIU Lemony lendo um poema. A filha de Kit não chegou a passar tempo com Lemony a ponto deles ficarem lendo poemas um para o outro. )

Após cuidadosa consideração, estou feliz em anexar a seguinte informação. Era eu, batendo a na porta do seu escritório ontem à noite. Eu sei que você estava lá, porque lhe segui da biblioteca, onde você ficou por quase uma hora observando uma caixa de vidro que continha velhos documentos que estavam sendo exibidos na exposição “Poesia Teatral: Sonetos por Atores e Atrizes”. Depois, você sentou em um banco no parque, examinando um anel colocado numa superfície de madeira por alguém, cuidadoso como se fosse de vidro, antes de passear pelas margens de um lago próximo, antes de repentinamente fazer uma corrida louca até o Doldrum Drive, onde um ônibus estava quase saindo. Você pegou o ônibus, enquanto eu parava um carro para te seguir pelas ruas cansativas do bairro entediante no qual o seu deprimente edifício se encontra. Enquanto eu tentava forçar a fechadura da porta da frente, você já estava muitos andares acima de mim, mas eu pude ouvir você respirando por causa da subida assim que alcancei sua porta. Porque você não respondeu? Porque você não responde nenhuma das minhas perguntas? Eu preciso ter pelo menos 12 delas respondidas.

(Esse parágrafo nos permite fazer duas teorias bem fundamentadas. Apesar de não ser possível provar, é provável que o anel que Lemony estava olhando, é o anel da duquesa de Winippeg, R. Sendo esse o caso, pode-se concluir que já que a filha de Kit deixou esse anel com os pastores lá próximo a montanha, esses pastores, que parecem ser da confiança de Lemony, encaminharam o anel para ele. Se isso for verdade, temos aí uma evidência que esta carta foi escrita anos depois dos acontecimentos de o fim de o Fim. Outro detalhe muito importante são essas perguntas que Beatrice diz que Lemony não respondeu. Na carta de 200 páginas que ela enviou para Lemony explicando porque não poderia casar-se com ele, uma das páginas contém uma lista de perguntas para Lemony. Lemony responde 12 das 13 perguntas na carta 9 de Beatrice Letters [De LS para BB Nº 5]. Provavelmente esta carta de Lemony para Beatrice nunca chegou em Beatrice, pois ela queria saber ainda as respostas destas perguntas. Daqui a pouco iremos falar novamente sobre estas perguntas, mas tenha em mente que Beatrice estava batendo na porta implorando para que Lemony fornecesse as respostas a estas perguntas, porque elas são muito importantes.)

“Enfim, por favor não hesite em me contatar o quão cedo for conveniente para o senhor. Uma única carta pode mudar tudo. Os três Baudelaires podem ter ido há muito tempo, mas há uma quarta Baudelaire aqui, esperando que você possa desatar o “Meu Nó Silencioso (My Silence Knot)” e me ajudar a encontrar o fim de uma história que começou com você – na mesma sala onde estou agora, prestes a entregar esta carta ao meu instrutor de escrita de cartas de negócios para que ele possa dar a nota e colocá-la no correio.

Sua, em negócios,

Beatrice Baudelaire.”

Atente, por favor, que ela diz: “Os três Baudelaires podem ter ido há muito tempo.” Isso dá a entender que esta carta realmente foi escrita após o incêndio da casa dos Baudelaire. Além disso, há o anagrama “My Silence Knot”, outra indicação de que realmente é Beatrice, a mãe dos meninos que está escrevendo esta carta. O tom dessa carta é claramente de uma tentativa de restabelecer um relacionamento, ainda que seja de amizade mais íntima, com Lemony.

Agora vamos para carta 10 [De BB para LS Nº 5]. Da mesma forma, vou colar e comentar:

BEATRICE BAUDELAIRE
Quinto Dia do Arrependimento

(A Voluntária que fez a tradução comentada, explicou o seguinte sobre o “Quinto Dia do Arrependimento: Original: midway through the Days of Awe. Os “Days of Awe” – Dias do Arrependimento em português – são os dez dias entre o ano novo judaico e o Yom Kippur, o Dia do Perdão. É uma referência à religião judaica que leitores de culturas que não têm muito contato com esta podem não conseguir reconstruir, o que se torna um problema quando ela também é uma indicação de quanto tempo se passou desde a última carta de Beatrice Baudelaire: aproximadamente quatro meses.)

Se você está em seu escritório — e tenho esperança que esteja, porque posso ouvir alguém abaixo de mim pelo rangido do assoalho— poderia simplesmente passar pela porta, atravessar o corredor rumo à escadaria a leste, subir depressa os degraus, atravessar o outro corredor e bater diretamente na porta do escritório acima do seu. Me encontrarias aqui, datilografando em minha máquina de escrever. Mas você não vem.

Em primeiro lugar, você não tem um bom senso de direção e não poderá saber em que ponto é o leste. Segundo, você claramente não quer falar comigo.

(Note o seguinte: esta carta com certeza é proveniente de Beatrice, mãe dos meninos. A filha de Kit não teria como saber que Lemony Snicket não tem um bom senso de direção. Nem mesmo Klaus, Violet e Sunny saberiam disso. Somente alguém que conviveu com Lemony poderia saber disso, e no caso foi Beatrice Baudelaire, mãe dos meninos. Atente também que Beatrice percebeu que Lemony não quer falar com ela. Por que será? Depois iremos discutir isso.)

Violet me falou uma vez que eu salvei a vida dela, e Klaus reivindicou que sem mim ele teria perecido em desespero depois da destruição do Hotel Desenlace. Até mesmo Sunny disse que não poderia ter sobrevivido sem mim. Mas não preciso lhe falar o quão valentes e diligentes, o quão leais e lidas são essas três pessoas. Eu é que estaria perdida sem eles. Sem o trabalho de emergência de Violet, eu nunca teria achado um modo de ir até a cidade procurar por você. Sem as anotações de Klaus quando eu estava escalando a montanha, eu nunca teria deixado a cidade para procurar por você novamente. Sem o extenso conhecimento culinário de Sunny de fazer bolinhos de flores silvestres e ervas daninhas, eu nunca teria encontrado a força para retornar mais uma vez, primeiro por iaque, então a pé, e depois de iaque e a pé, dando voltas atrás da cidade na esperança de finalmente conhecê-lo (a palavra usada aqui em inglês é o verbo meet, que pode significar também “encontrar”, ou “se reunir”) cara-a-cara. E sem as histórias que os três irmãos me contaram sobre suas dificuldades — as quais, em alguns casos, diferem bastante dos seus  relatos — eu nunca teria achado a escola de secretários, onde escrevi a minha carta anterior a você. Aquilo não é uma escola de secretários, é claro — não realmente — mas tive que me sentar por aquela carta empresarial tediosa que escrevi na classe para eles acreditarem no nome que eu dei ao vice diretor em minha chegada.

(Atente para o seguinte: Klaus disse que sem Beatrice, ele teria perecido em desespero logo após a destruição do hotel desenlace. Tais palavras não fariam muito sentido caso se referissem a filha de Kit que tinha acabado de nascer. Mais sentido se faz considerar o fato de que na ilha para qual eles foram após o incêndio no hotel, eles encontraram um livro parcialmente escrito por Beatrice, chamado também de “Desventuras em Série”. Ler aquele livro, ajudou Klaus a ter uma conexão com sua mãe e suportar o tempo de 1 ano na ilha. Isso indica que Klaus, Violet e Sunny se reencontraram com Beatrice após os acontecimentos em o Fim. Eles tiveram suas próprias aventuras, ou desventuras, como família. Mas a parte mais interessante dessa carta é sem dúvida a que Beatrice diz: “Para eles acreditarem no nome que eu dei ao vice diretor em minha chegada”. ISSO É UMA PROVA DE QUE BEATRICE ESTÁ FINGINDO SER OUTRA PESSOA. Você se lembra da senhorita K, que visitou a Pré-Prufrock? Lembra que o vice-diretor Nero relatou que uma “senhorita K” começou lá como professora? E se lembra que esta não pode ser Kit, porque na época Kit já estava morta? Consegue perceber que nesta carta para encontrar a escola de secretariado Beatrice teve que recorrer a informações que os meninos deram sobre as desventuras deles que também foram narradas por Lemony? Em que parte das Desventuras deles, eles tiveram algum contato com um “Vice-Diretor”? Então, Beatrice diz que precisou se esforçar escrevendo uma carta de negócios falsa, para acreditarem no nome que ela deu ao vice-diretor quando chegou… Agora se lembra da salada que Beatrice sabia fazer, e que Lemony diz em uma mensagem para sua “irmã” (que já estava morta durante a publicação) esta sabia fazer? Então, a quantidade de evidências são tantas que praticamente é impossível negar: Com toda certeza Beatrice tem se passado por Kit Snicket durante a publicação de Desventuras em Série.)

Sem Violet, Klaus e Sunny eu nunca teria continuado meus estudos com os poucos voluntários que restaram, e me tornado a baticeer que sou hoje. Devo a minha vida a eles, e agora nós estamos separados, e não descansarei até os achar novamente.

Eu me estabeleci aqui, no escritório acima do seu. Em alguns momentos perfurei um pequeno buraco no chão com a ferramenta de metal pontiaguda que minha última instrutora me deu, antes que ela mesma tivesse que ir para as colinas à procura de outros órfãos e escapar de outros inimigos. Você mesmo deve ter um item semelhante — na verdade todos nós, esperançosamente, ganhamos um ou dois itens úteis antes que nossos instrutores desapareçam e nos deixem sozinhos no mundo. Vou colocar este pedaço de papel em um tubo minúsculo e deixar que ele caia de minhas mãos pelo buraco. De acordo com meus cálculos, ele deve passar fora das lâminas do ventilador de teto e se abrir no ar, caindo suavemente sobre a superfície da sua escrivaninha como um morcego depois de uma longa noite de caçadas.

(Atente, por favor, para o anagrama que Beatrice insere de propósito, criando oportunidade para inseri-lo. Esta é a marca de que é realmente Beatrice Baudelaire, mãe dos meninos, que está escrevendo. Atente também que ela se separou novamente dos filhos, para ir encontrar com Lemony. Ela pode até dizer que vai fazer de tudo para encontrá-los novamente, mas é inegável que ela está a meses na cidade tentando falar face a face com Lemony, e ele já percebeu isso, e está fazendo de tudo para evitá-la. Por que ela ainda não foi atrás dos filhos?)

Por favor me contate a qualquer hora, dia ou noite, de preferência de dia. Não posso imaginar porque alguém tão nobre quanto você — assumindo, mais uma vez, que você é o homem que eu penso que é — não conheça (verbo meet, podendo esta parte ser traduzida por  “não se encontre com”) alguém que quer tanto falar com você. Por favor senhor, eu lhe imploro que simplesmente passe pela porta, atravesse o corredor rumo à escadaria a leste, suba depressa os degraus e bata diretamente na porta do escritório acima do seu, e desate o “My silence knot” (meu nó silencioso).

Beatrice Baudelaire.

(Há mais uma vez o anagrama de My Silence Knot, provando que esta realmente é a mãe dos meninos. Perceba o desespero dela em encontrar Lemony novamente. Esse é o principal interesse da vida dela no momento. E ainda tenta apelar para os sentimentos de nobreza de Lemony.)

 

Agora vamos para a carta mais interessante de Beatrice para Lemony. Se você já entendeu o mecanismo de comunicação e de identificação nas cartas, e o quanto Beatrice estava desesperada para encontrar Lemony, e também entendeu que ela se estabeleceu em um andar acima do escritório de Lemony no edifício retórico, bem como leu a carta número 1 de Beatrice Letters, bem como entendeu o é Beatrice Letters em si, você vai entender de quem veio essa carta e quais eram suas reais motivações ao escrevê-la, bem de qual foi o resultado desta carta.

Carta N. 12 [de BB para LS n. 6]

BEATRICE BAUDELAIRE – Baticeer Extraordinária – Edifício Retórico, 14º andar

Horário do coquetel

Desculpe-me por lhe deixar envergonhado na frente dos seus amigos. Eu só queria falar com você. O garçom concordou em trazer este cartão junto com a sua bebida. Se não quiser me encontrar, rasgue isto  quando terminar sua root beer float. Eu partirei, e nunca mais tentarei lhe contatar novamente. Mas, se você quiser me conhecer (ou encontrar), sou a garota de dez anos no canto da mesa.

B.

Esta carta veio de Beatrice, mãe dos meninos. Isso fica evidente por ela inserir o anagrama Bariceer. Além disso, essa carta tem o mesmo modelo da primeira carta de Lemony para Beatrice. A filha de Kit não teria como escolher o mesmo modelo de palavras para tentar tocar Lemony, sem ter a informação que Lemony escreveu algo assim para Beatrice décadas atrás. Além disso, Lemony nessa época atual da vida dele não tem muitos amigos… O que a filha de Kit poderia fazer para envergonhar Lemony na frente de amigos que este nem tem? E o que uma menina que você nunca viu pode fazer para lhe envergonhar? Esta carta foi escrita por Beatrice depois da última carta, pois ela já estava alojada no décimo quarto andar do edifício retórico, onde Lemony tem seu escritório. Agora, pergunte-se: “Por que Beatrice falou que tinha dez anos?” É a mesma razão por ela ter usado uma fraseologia similar a primeira carta: Ela queria fazer Lemony se lembrar dos velhos tempos. Ela queria fazer Lemony se lembrar do primeiro encontro deles, décadas atrás. É uma forma de dizer “Vamos voltar de onde começamos?” O pedido de desculpas é possivelmente uma referencia ao fato de Beatrice ter cancelado o casamento na época em que Lemony tinha amigos íntimos, e até convidados para seu casamento. Bem, se você percebeu, a carta não foi rasgada. Então parece que Lemony aceitou a proposta, e teve uma looonga conversa com Beatrice. E mais uma coisa: você já parou para pensar como Lemony conseguiu reunir as cartas que ele mesmo havia enviado para Beatrice? É fácil ele ter guardado as cartas que ela enviou para ele, mas como ele conseguiu recuperar desde a primeira carta que ele enviou para ela? Só existe uma resposta: Beatrice estava guardando todas as cartas que Lemony enviou para ela durante todos esses anos. Ela guardou, e nessa looonga conversa, ela entregou para ele. PONTO. Esse é um aviso, para você parar de ler agora. Porque você pode imaginar que Beatrice e Lemony tiveram uma vida feliz, num romance restaurado depois de tantos anos. E pode ficar feliz com isso. Não precisa continuar lendo. Porque se você continuar, vai descobrir algo que Lemony já havia descoberto naquele dia sobre Beatrice. PONTO.

Para entender porque Lemony começou a evitar Beatrice, temos que atentar para as 12 perguntas que Lemony responde na carta  [de LS para BB n.5]. Lembre-se que para Beatrice era muito importante ter as respostas a estas perguntas.

Apesar de termos apenas as respostas, algumas delas são feitas de modo a possibilitar saber quais são as perguntas. Vou copiar algumas das importantes aqui:

Pergunta Número Dois: Claro que eu lembro. Você entrou naquela
enorme sala de madeira verde. Você tinha chegado cedo para a nossa primeira aula, assim como eu. Eu sempre acreditei, muito antes que me ensinassem isso, que chegar cedo aos compromissos é um sinal que marca uma pessoa nobre, e deixei você envergonhada ao dizer isso na frente de R. e B. e dos outros.

(A pergunta evidentemente é: “Você se lembra da primeira vez que nos vimos?” Essa perguntas nos ajuda a entender a carta n.1. Atente que B., deve se referir a Bertrand. Além disso, pode indicar que Beatrice se apaixonou por Lemony a primeira vista.)

Pergunta Número Quatro: Não, eu acho que não. Eu lembro da
performance, claro, e lembro do seu traje esplêndido, e lembro do alfinete de
chapéu que você jogou para fora do palco, e lembro da discussão que eu tive
com Eleanora Poe na manhã seguinte, quando entreguei minha crítica com mais de uma hora de atraso, mas não lembro nada do programa da peça. Se
eu tive o programa em minhas mãos, não lembro de tê-lo aberto. Se o abri, não
lembro de ter visto um poema nele. Se vi um poema, não lembro de tê-lo lido, e
se o li, não lembro de tê-lo relido, e se o reli, não lembro de ter ficado confuso
ou de ter continuado confuso. Em resumo, estou confuso.

(Esta é a perguntas mais importante: Beatrice perguntou algo como: “Você se lembra do poema contido no programa da peça My SIlence Knot, e lembra e de ter ficado confuso quando leu ou releu aquele poema?” Beatrice deixou uma mensagem naquele poema. Uma mensagem sobre seus planos. Anos mais tarde, ela queria a resposta a essa pergunta, porque o poema deveria indicar a Lemony os planos de Beatrice com anos de antecedência. Mas Lemony não entendeu o significado do poema na época. Anos depois, quando Beatrice falou sobre as perguntas não respondidas em uma carta, Lemony deve ter se lembrado dessa pergunta, e decidido ir procurar o poema. Quando ele finalmente entendeu o significado, seus sentimentos românticos foram substituídos por uma decepção grotesca. Acompanhe mais evidências disso abaixo).

Pergunta Número Seis:  “Um homem que vive num outeiro.”

Pergunta Número Sete: “Um homem ou uma mulher que treina morcegos.

Pergunta Número Oito: “Uma alteração da ordem das letras de uma palavra, nome ou frase, para construir uma nova palavra ou frase.”

(Essas três perguntas tem haver com o poema chamado My Silence Knot, o tal poema da peça também chamada My SIlence Knot, que é uma mensagem para Lemony Snicket. Beatrice pergunta algo como: “Você entende o que significa Brae-Man? Você entende o que significa Baticeer? Você entende o que é um anagrama?” A pergunta em inglês deve ter sido algo como : “Can you undertand what’s means a Baticeer?” Ela queria saber se ele entendeu o significava Baticeer no poema. No caso, significava a própria Beatrice. Mas Lemony não entendeu o significado da pergunta quando escreveu essa carta. Da mesma forma, Beatrice queria saber se ele havia percebido que no poema o Brae-Man era o próprio Lemony, e depois destacou se ele havia percebido que ela havia escrito por meio de anagramas. Mas Lemony só escreveu as definições das palavras. Mas tudo isso tem haver com o poema “My SIlence Knot” que mostrava os planos de Beatrice para o futuro.)

Pergunta Número Nove: Sempre. Continuamente. Com uma apreensão
que só aumenta, e uma esperança que vem diminuindo…

(Essa pergunta deve ter sido, “Você vai continuar me amando não importa o que aconteça?” Essa pergunta também é muito importante para entender Beatrice. Ela estava planejando algo sórdido para o futuro. Saber se Lemony iria continuar a amando mesmo que abandonasse seu marido anos depois (e possíveis filhos) para ir atrás dele era muito importante para ela. E por isso ela queria tanto saber a resposta dessa pergunta anos depois.)

Pergunta Número Onze: Tudo. Uma letra pode estar em código, uma palavra pode estar em código, e uma carta pode estar em código. Uma performance de teatro pode estar em código, e um soneto pode estar em código, e às vezes parece que o mundo todo está em código. Alguns acreditam que se pode decodificar o mundo pesquisando na biblioteca. Alguns acreditam que se pode decodificar o mundo lendo o jornal. Mas no meu caso, a única coisa que fazia o mundo ter sentido era você, e sem você o mundo vai parecer
confuso e trágico como uma máquina de escrever que não funci9na.

(Essa pergunta novamente aponta para o poema My Silence Knot: Ela perguntou algo como: “Você acredita que qualquer coisa, como uma peça tetral ou um soneto pode conter um código? O que você faria para decifrar esse código?)

Bem, o que Lemony fez depois que se apercebeu da importância do Poema My Silence Knot? Ele começou a procurar por ele. E ele o encontrou.  Na carta 8 [de BB para LS n. 4] Beatrice disse: “o senhor ficou quase uma hora olhando um expositor onde havia vários documentos antigos da exposição “Poesia no Palco: Sonetos de Atores e Atrizes”. ” Isso indica que Lemony estava procurando a poesia My SIlence Knot. Na carta ao editor ele explica como foi a procura, e o resultado da procura: Vou copiar aqui as partes importantes:

Carta n°13

Hoje

Ao meu amado editor,

Como você sabe, não é fácil invadir um depósito…

Uma vez dentro do depósito, deve-se manter a esperança de que ele tenha sido sensivelmente organizado – caso contrário levará toda a noite para encontrar o local onde estão armazenados documentos a muito tempo exibidos em bibliotecas, e toda a manhã para achar o arquivo. Procurei em “Poesia organizada”. Procurei em “Organizada, poesia”. Procurei em “Sonetos por atores e atrizes”. Procurei em “Atores e atrizes, sonetos por”. Procurei em “Poemas de quatorze linhas”. Procurei em “Exibições teatrais”. Procurei em “Poemas que envolvem teatro”. Procurei em “Drama”. Procurei em “Melodrama”. E também procurei  debaixo do assoalho.

Finalmente, me ocorreu olhar no nome do poeta. Isso é algo que eu devia ter percebido muito mais cedo, mas algumas coisas mais simples da vida são muito difíceis de se imaginar. Porque eu a amava tanto, por um instante, nunca ocorreu a mim que pudesse haver mais de uma Beatrice Baudelaire…

Algum tempo antes de eu receber a primeira carta de Beatrice Baudelaire percebi que todas as cartas de Beatrice Baudelaire poderiam se encontrar não só em “primeira Beatrice Baudelaire” como também em “segunda Beatrice Baudelaire” (aqui ele se refere ao arquivo). E, talvez, se eu juntasse as cartas que restavam da primeira Beatrice Baudelaire com as primeiras cartas da outra Beatrice Baudelaire, então as Cartas de Beatrice poderiam explicar as cartas (ou letras) de Beatrice, e até mesmo cartas para Beatrice, não importa que cartas (ou letras) são elas e nem em que ordem estão. Imediatamente comecei a trabalhar no arquivo.

E agora, depois de todo esse tempo, encontrei o mesmo pedaço de papel que havia examinado uma vez em uma caixa de vidro – e, anos antes disso, em um corredor da biblioteca, com o pedaço de papel na tal caixa de vidro. Infelizmente, esse soneto perdido é como uma meia perdida – e que estava perdido há tando tempo que todas outras coisas tinham se desvendado completamente em sua ausência. Por muitos anos  pensei que se eu coletasse todas estas cartas e seus anexos, – uma frase que aqui significa “documentos e artigos que temi que desaparecessem, e que logo podem desaparecer novamente” – poderia ordená-las, como quando se resolve um anagrama ao por as letras na ordem certa. Mas letras não são cartas, de modo que ordenar cartas não é tão simples quanto ordenar letras e, mesmo se fosse, a ordem das cartas poderia significar mais de uma coisa, do mesmo modo como há mais de uma Beatrice. E, assim, o mistério poderia converter-se em dois mistérios, e cada um destes novos mistérios poderiam se duplicar, até que o mundo inteiro estivesse afundado neles, como é agora. Não importa quais documentos investigue e quais objetos  recupere: talvez você nunca responda às questões que são muito importantes para você. Porém, cedo ou tarde você tem que terminar qualquer arquivo que começou.

Este arquivo terminou – logo quando pensei que poderia ser meu fim. Não posso mais olhar para estes documentos ou correr as minhas mãos ao longo da tinta, porque meus olhos estão cheios de lágrimas e meus dedos estão manchando e cortando o papel. Os segredos contidos aqui são como todos os segredos – perigosos aos que os descobrem e inofensivos aos que não os notam. Por esta razão, eu recomendo que você destrua esse arquivo ou faça tantas cópias quanto possível.

Não sei quando escreverei para você novamente. Não ouso sequer escrever minhas iniciais no fundo desta carta, quando tantas cartas têm sido perdidas. Pode parecer estranho, mas ainda espero pelo melhor, embora o melhor, assim como uma correspondência interessante, raramente chega ao seu destino, principalmente quando tal correspondência pode ser perdida tão facilmente.

Respeitosamente,

 

Como Lemony destacou, a descoberta do poema deixou ele acabado. Então, vamos fazer o que Lemony fez: interpretar o poem My Silence Knot.

 

 My Silence Knot

Um poema sobre uma peça sobre a história de duas pessoas que

Escrito pela pessoa na história (na peça e no poema) que

(Note, que há uma clara indicação que o poema tem uma aplicação real)

 

Meu nó silencioso está amarrado em meu cabelo.

Como se para manter meu amor longe de meus olhos.

(O nó do silêncio, além de ser uma anagrama de Lemony, também indica um segredo guardado. Esse segredo iria deixar o amor de Beatrice, Lemony, longe dos olhos dela)

Não posso falar com o alguém por quem tenho zelo.

(Beatrice teria que ficar sem falar com Lemony por ter zelo. Esse zelo deve se referir ao grande apreço que tinha por sua organização. O motivo deles não se casarem, deve ter haver com algum plano de CSC para que o mundo ficasse sereno novamente, pois esse é o objetivo da parte nobre da organização. De alguma forma isso estava ligado a casar-se ou deixar de casar-se com pessoas específicas).

Um alfinete de chapéu é parte do meu disfarce.

(Esse alfinete foi acertado com Lemony antecipadamente, que ela deixaria para ele e assim ele saberia que ela estava mandando uma mensagem de amor para ele por meio da peça teatral).

Na peça, meu papel é uma Baticeer,

Uma palavra que aqui significa “pessoa que treina morcego”.

(Usar Baticeer aqui, é uma clara indicação que este poema na verdade é uma carta de Beatrice para Lemony! Além disso, a Baticeer na peça, por ser um anagrama de “Beatrice” representa a própria Beatrice.)

A plateia pode sentir uma pontada de medo,

Como se afiados alfinetes estivessem ocultos em seus chapéus.

Meu coadjuvante vive no que chamamos de Brae.

Sua solidão pode não ser apenas um ato.

(Um Brae, ou uma caverna numa montanha, é onde Lemony tinha um esconderijo. O coadjuvante de Beatrice estava significando na peça o próprio Lemony.)

Uma correspondência falta chegar um dia.

(Aparentemente Beatrice treinou de propósito seus morcegos mensageiros para levar correspondências de Lemony para outro lugar, não para ela. Por isso, ela enviou a carta de 200 páginas por meio de pombos correios, em vez de por meio de morcegos mensageiros. Ela sabia que haveria dificuldades de comunicação por meio de cartas ao longo da vida deles. Seu zelo a levaria a manter-se sem se comunicar com Lemony por um tempo determinado.)

Este melodrama é baseado no fato.

A cortina cai como o nó que desamarra,

O silencio é quebrado por aquele que morre.

(Ao dizer, que a cortina cai, ela estava dizendo que um dia iria mandar todo esse plano para os ares. Como ela disse: “Quebra o silêncio aquele que morre.” Ela iria fingir a própria morte, e então retornar dos mortos para quebrar o nó silencioso. Ela iria no futuro reaver seu relacionamento com Lemony, não importa o que isso significasse. )

Lemony ao ler e entender o poema, percebeu que Beatrice havia colocado em prática um plano de anos de antecedência. Por isso ele queria evitá-la. Ele havia achado que Beatrice estava fingindo sua morte por necessidade, não de propósito… Afinal agora ela era mãe. E Lemony dedicou anos de sua vida a conhecer a fundo sobre os filhos dela. E ele se apegou emocionalmente aqueles filhos. E descobrir que ela de propósito abandonou eles, foi demais para ele aceitar.

É por isso que Lemony diz, ao encontrar esse poema, que está acabado. É por isso que ele não quer falar com Beatrice. É por isso que ele entregou o arquivo das cartas para o editor decidir o que fazer: Publicar ou não publicar. O editor decidiu publicar. Agora vem a parte mais interessante: Quando, na cronologia, esses eventos da busca de Beatrice por Lemony aconteceram? Só podem ter acontecido LOGO ANTES de Lemony publicar o livro 13.

Em nosso universo, Beatrice Letters foi lançado antes de publicar o livro 13, o FIM. Aparentemente o mesmo aconteceu no universo de Lemony. Em o fim encontramos algumas coisas interessantes, que mostram que Lemony havia mudado sua atitude para com Beatrice.

1 – Temos duas dedicatórias, e em nenhuma delas ele fala ou sugere que Beatrice está morta:

  • O Fim: Para Beatrice — Meu amor apareceu, o mundo empesadeleceu.
  • Capítulo Catorze: Para Beatrice — Nós somos como barcos navegando pela noite — especialmente você

A primeira dedicatória mostra que Beatrice, o amor de Lemony, havia aparecido. Não disse que estava morta. E a segunda compara a barcos que estava navegando pela noite, não a um barco naufragado, por exemplo. Na primeira dedicatória, vemos que o aparecimento de Beatrice fez o mundo empesadelecer, ou seja, a decepção que ele sentiu foi tanta que pra ele o mundo todo virou um grande pesadelo. Pois se até sua amada era capaz de fazer algo tão egoísta como abandonar seus próprios filhos… então o mundo não seria capaz de gerar nada realmente nobre na mente de Lemony.

No livro 13 temos também a descrição da morte de Kit. Isso foi uma publicação clara que aquela que todo mundo estava achando que era Kit, não podia ser Kit. Foi uma forma de acabar com a identidade secreta que Beatrice estava usando por tantos anos. Esse cenário combina com o R. disse a respeito de Beatrice, na carta dela para Lemony no capítulo 2 da autobiografia:

Tudo naquele quarto de hóspedes se foi, e tudo no quarto de hóspedes vizinho também. Beatrice, é claro, está longe de reclamar bens perdidos — a mesma razão, estou certo, por que o senhor dedicou sua vida a pesquisar as vidas daquelas três pobres crianças.

R. conhece bem Beatrice. Ela sabe que Beatrice abandonou os filhos de propósito, e acha que Lemony também sabia. Para R., o motivo de Lemony está escrevendo sobre os filhos de Beatrice é fazer ela se tocar de quanto seus filhos deviam ser amados por ela, porque Beatrice não é de reclamar bens perdidos, nem mesmo seus próprios filhos. Mas Lemony não entende a mensagem de R., porque ele desconfia da autoria da mensagem.

Sim, caros voluntários. Beatrice está viva. Mas ela não é uma boa pessoa. E finalmente Lemony percebeu isso. O lema do seu casamento com Betrice seria “O amor supera quase tudo.” É… Quase tudo.

Pretendo em breve escrever sobre a idade de aproximada de Lemony Snicket, bem como a o motivo de Beatrice não ter casado com Lemony… Obrigado por ler até aqui. Queridos amigos do T.V. Se estiverem lendo isso, por favor credite no vídeo o criador desta teoria com o nome Jean Lúcio. O vídeo sobre as fotos da terceira temporada ficou ótimo mesmo sem F. participando dele. Espero que F. possa ler e concordar com esta teoria muito bem fundamentada e um dia aceitar fazer um vídeo sobre ela. Atenciosamente, J.

Em breve devo escrever sobre a idade de Lemony bem como os motivos que levaram Beatrice não se casar com Lemony muitos anos atrás.

Atenciosamente,

J.

5 comentários em “Parte 5 – Como a obra Beatrice Letters comprova que Beatrice, a mãe dos irmãos Baudelaire, está viva assumindo a identidade de outra pessoa e que provavelmente abandonou de propósito seus filhos durante o incêndio e que descobrir isso fez os sentimentos românticos de Lemony serem superados por uma decepção grotesca?

  1. Na terceira temporada da netflix, Beatrice mata os pais de Olaf com os Dardos Envenenados guardados no cabelo dela. Essa parte “A plateia pode sentir uma pontada de medo, Como se afiados alfinetes estivessem ocultos em seus chapéus.” se encaixa MUITO na cena. Parabéns cara. A teoria é fantástica!
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  2. Bom dia! Nem sei como acabei parando aqui, mas sei que adorei a teoria, e é uma das melhores e mais bem descritas coisas que já li. Tudo faz sentido, muito bem pensado. Gostaria de saber se você tem Twitter, tumblr, ou algum lugar que eu possa te seguir e ver outras coisas desse estilo (espero que ainda esteja usando o blog)

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    1. Oi, eu publico teorias em inglês no https://snicketstrange.tumblr.com/ e também faço parte do forum asoue.proboards.com (Dark Avenue 667 – answering wrong questions). Também tenho um canal no youtube chamado Beatrice Está Viva. Tenho usado pouco esse blog, e minhas teorias estão avançando pouco a pouco a cada dia. Vou voltar a publicar aqui, agora que você comentou. Obrigado!

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